Escribe Nádia Garcia | Secretária Nacional da Juventude do PT
Uma retrospectiva de como Bolsonaro elegeuas juventudes como suas principais inimigas
As juventudes brasileiras têm em 2022 uma chance única de decidir qual futuro querem construir. Com mais de 8 milhões de jovens aptos a votar neste ano, o voto da juventude vem sendo cada vez mais cobiçado pelo fascismo para resolver a conta de votos que é preciso para tentar reeleger Bolsonaro.
Para garantirmos que essa juventude não caia na lábia fácil e mentirosa dos aliados da política liberal, é preciso fazer uma viagem no tempo e analisar criticamente onde fomos parar desde 2019 com o governo Bolsonaro. Jair Messias Bolsonaro ganhou as eleições presidenciais de 2018 usando fake news e financiamentos internacionais e fez questão de nos primeiros 100 dias de governo apresentar ao povo a linha reacionária e liberal do que seriam seus 4 anos de governo.
Ainda no primeiro semestre anunciou cortes bilionários nas universidades, o que levou as entidades estudantis e organizações de juventude a convocar o “Tsunami da Educação”, primeiro grande ato nacional em oposição a Bolsonaro. Desde então mais cortes foram anunciados, mais desmontes foram feitos, projetos de lei que usurpam direitos do povo foram apresentados e aprovados e tudo isso se agravou ainda mais com a crise sanitária e social da COVID-19 em 2020.
Bolsonaro negou a existência do vírus, ironizou mortes, negociou vacinas em troca de dólares e agiu contra a segurança e a vida do povo e principalmente das juventudes durante todo o tempo. Todos esses comportamentos destrutivos e corruptos do Presidente da República nos levaram ao cenário desesperançoso e que priva os jovens brasileiros de uma perspectiva real de futuro.
Hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego é uma realidade cada vez mais próxima dos jovens brasileiros, com a taxa de desocupação entre eles sendo o dobro da média brasileira. Mais de 50% dos jovens entre 16 e 17 anos estão desempregados e mais de 40% dos que têm entre 18 e 29 também estão desocupados.
Não obstante, a taxa de evasão escolar é a maior da história, onde metade dos estudantes da rede pública de ensino abandonou a escola no último ano, de acordo com o Censo Escolar da Educação Básica 2021, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), e em 2021 o Brasil realizou o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) mais branco e elitista em mais de uma década, como constata um levantamento feito pelo Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior, que mostrou que apenas 11,7% dos inscritos no ENEM 2021 foram pretos e o número de inscritos que declararam carência no pedido de isenção de taxa caiu 77%, mostrando que apenas os mais ricos conseguiram acesso a prova.
Essa realidade fez com que pelo menos 30% dos jovens brasileiros fossem classificados pela Consultoria IDados como “nem-nem” (nem estudantes, nem trabalhadores), mas que prefiro chamar de “sem-sem”, sem oportunidade de estudo e sem oportunidade de emprego por culpa da política fascista do governo federal que busca cada vez mais colocar as juventudes como uma causa e não a solução para a crise econômica que o Brasil se encontra.
Agora, a poucos meses da eleição mais importante de nossas vidas e com todas as pesquisas de intenção de voto indicando uma derrota de Bolsonaro ainda no primeiro turno, seus apoiadores apresentam ainda mais golpes contra a juventude. A PEC 206, que pretende promover a cobrança de mensalidades nas universidades públicas, foi colocada na pauta da CCJ da Câmara Federal no começo deste mês e poucos dias depois o governo anunciou um novo corte bilionário no orçamento do Ministério da Educação (MEC), o que pode levar as universidades e institutos federais a fecharem suas portas.
Conhecendo essa realidade de falta de oportunidades e perspectivas, não é estranho que o Brasil seja também um país violento e perigoso para as juventudes. Nosso país segue matando um jovem negro a cada 23 minutos, segundo a ONU, e na última semana de maio a polícial militar do estado do Rio de Janeiro matou mais de 20 jovens em uma operação que segundo Bolsonaro e seus aliados foi um sucesso, já que a meta não era acabar com o tráfico e sim contribuir para o genocídio exacerbado da juventude negra, baseado e fortalecido pelo racismo e suas marcas históricas na construção desse país.
O racismo, o machismo e a LGBTfobia matam todos os dias e colocam o Brasil como um dos países mais violentos do mundo para os negros e negras, as mulheres e as pessoas LGBTs. Nesse momento, nosso país é o 5º que mais mata violentamente mulheres no planeta, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e o 1º que mais mata pessoas transsexuais e transgêneros no mundo, conforme o relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU).
Jair Bolsonaro representa a violentação e militarização da política por completo, esbanjando um governo com mais de 6 mil membros das forças armadas em cargos e espalhados pelo comando de diversas estatais e agências reguladoras, superando o número de militares em cargos civis durante a ditadura militar de 1964. Essa militarização da política será um tenebroso legado com que as juventudes terão de conviver, rememorando um fantasma latinoamericano que por anos nas esquerdas pensamos ter superado, mas que infelizmente está cada vez mais vivo em um país que nunca se reconciliou com sua memória
E além de não conseguir se reconciliar e deixar para trás seu passado militar e trabalhar diariamente para destruir o presente com corrupções e negações à ciência durante nossa maior pandemia, Bolsonaro tenta destruir as bases de reconstrução do país, desmontando estruturas que por décadas garantiram autonomia e independência ao país frente ao capital financeiro vendendo e privatizando nossas empresas estatais, como a Eletrobras, causando prejuízo bilionário aos brasileiros e brasileiras, já que ela está sendo vendida por um valor 40 bilhões de vezes menor do que realmente vale. A venda da Eletrobras vai prejudicar 99,7% da população consumidora de energia elétrica, fazendo com que as contas de energia subam, de imediato, entre 16% e 17% em todo país, segundo a projeção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Fazendo essa retrospectiva é possível, com muita facilidade, entender que Jair Messias Bolsonaro colocou a juventude como sua principal inimiga e não vai desistir de acabar com nosso futuro se não o impedirmos. Mas também não espanta sabermos que a juventude tem sido a protagonista do enfrentamento ao projeto neofascista em curso no Brasil. Foram os jovens que protagonizaram todos os movimentos de revolução e luta social neste país: a resistência à ditadura militar, os caras pintadas, as manifestações de 2013, a luta contra o golpe de 2016, o #EleNão em 2018 e tantas outras.
Agora, mais do que nunca, as juventudes brasileiras se organizam para lutar contra o inimigo que está no poder. Na pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, 55% dos jovens brasileiros vão votar em Lula nas eleições de 2 de outubro e 60% dos jovens brasileiros não votariam de forma alguma em Bolsonaro. Conquistar o voto desses 5% que não querem Bolsonaro outra vez e dos 45% que ainda não estão com Lula é a principal missão da Juventude do PT nos próximos 4 meses.
Organizar as juventudes, ocupar as ruas, conquistar corações e mentes e eleger Lula Presidente é a tarefa número um de uma juventude que quer construir um Brasil mais justo, igualitário e de oportunidades. Reconstruir e transformar o Brasil é possível e isso vai ser feito pelas juventudes!